quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Jogadores -Bandeira - Lucho Gonzalez

Numa era em que a paixão pelo jogo se restringe quase exclusivamente às bancadas, a esfera do futebol assume uma dinâmica que torna quase impossível perceber onde acaba o negócio e começa o resto – se é que há futebol para lá do negócio. Longe vão os tempos em que os atletas sentiam o clube da mesma forma que os adeptos, quando jogadores de clubes rivais eram de facto rivais, quando se podia dizer que determinado jogador era o clube que representava.
Mas, o espetáculo tem de continuar, jogadores vêm e vão, os clubes perduram no tempo e o comum adepto tem tanta necessidade de um ídolo que vista as suas cores, como das cores em si.
É certo que a dimensão (e as finanças, principalmente) da liga e dos clubes portugueses não permite que o contexto atual gere figuras sagradas como Xavi, Casillas, Giggs ou Totti, mas ainda assim o BT propõe-se a analisar os “jogadores-bandeira” que figuram atualmente nos mais históricos emblemas lusos.

PORTO – LUCHO

Lucho pode ser encarado como uma viragem no paradigma dos líderes portistas. O passado mais ou menos recente nomeia como donos do balneário (e do campo) jogadores ferozes e homens da casa, como Fernando Couto, Jorge Costa, Vítor Baía, Pedro Emanuel e Bruno Alves. Dada a amostra, poucos adivinhariam que um argentino muito tatuado, pouco dado a grandes velocidades e que até jogava com uma estranha gola alta, se tornaria no atleta mais acarinhado do plantel, e no líder indiscutível de uma equipa com pouquíssimas raízes da formação.
Esta forte ligação começou oficialmente no verão de 2005, ainda que tenha ficado a ideia de que o negócio pelo jogador fora fechado um ano antes, no rescaldo da epopeia europeia do Porto de Mourinho. Cerca de 3.5 milhões de euros por metade do passe (acabaria por custar mais de 10 na totalidade), foi quanto a SAD portista desembolsou para contar com aquele que era um dos jogadores mais cotados do campeonato argentino, onde representava o histórico River Plate.
 Aterrou na Invicta com 24 anos e deu ao Porto os melhores anos da sua carreira. Garantiu 4 títulos de campeão em 4 épocas (aos que juntou 2 taças de Portugal e 1 Supertaça), fez bem mais de uma centena de jogos de azul e branco e mostrou veia goleadora - principalmente na Liga dos Campeões onde ainda hoje mantém em registo interessante - mas mais que pelos números, foi pela sua qualidade e postura que aos poucos conquistou colegas, adeptos e até adversários. Em campo, cabeça levantada, clareza de processos e regularidade salpicada com momentos de brilhantismo – em suma, Lucho era ao mesmo tempo o Comandante e o farol de uma equipa de topo que parecia não saber navegar sem ele; fora das quatro linhas, uma simplicidade quase anormal, lucidez nas declarações públicas e o alheamento em relação ao interesse de clubes como Valência, Everton ou o poderoso Real Madrid mostravam que Lucho era diferente.

As promessas de amor eterno começam a manifestar-se a partir da terceira época de dragão ao peito, altura em que o argentino alcançara já o restrito lote de capitães do plantel. A hipótese de terminar a carreira na Invicta começa a ser abordada nos media desportivos e foi ganhando mais força, uma vez que a SAD adquirira entretanto a totalidade do passe do atleta. No entanto o verão de 2009 traz desenvolvimentos tristes, mas não fatídicos a esta cumplicidade. Os franceses de Marselha estão rendidos ao argentino e utilizam uma tática negocial pouco comum: perguntam quanto quer Lucho para rumar a França. O astronómico número atirado pelo então 8 do Porto (quase 400 mil euros por mês) destina-se segundo o próprio a afastar o interesse dos gauleses, mas para surpresa geral é imediatamente aceite sem qualquer regateio. Somaram-se a estes valores uma verba de 18 milhões de euros que o Porto receberia por um atleta de 28 anos, e estava-se perante uma oferta absolutamente irrecusável… Lucho partiu quando ninguém o esperava, mas o emocionado vídeo de despedida que deixou à nação portista levava a crer que o adeus era mais um até já. (http://www.youtube.com/watch?v=J86UNXtWbnY).

Em França o herói azul e branco deixa também a sua marca, e é peça fulcral logo no ano de estreia, em que o Marselha regressa aos títulos depois de mais de uma década em branco. Ao longo de duas épocas e meia conquista ainda 3 Taças da Liga de França e 2 Supertaças.

Sensivelmente a meio da sua estadia no Sul de França, Lucho Gonzalez desvenda um pouco do que lhe vai na alma, a propósito de uma entrevista a uma rádio argentina. Quando abordado sobre um regresso a casa para terminar a carreira, Lucho confirma que a ideia o consome, mas sublinha que a sua casa é no Norte de Portugal, no Porto, onde manteve a sua residência, de onde é natural a sua (segunda) esposa e o pequeno filho de ambos.

Esta “ideia”, concretiza-se no mercado de inverno da época 2011/2012. Em mais uma manifestação séria de portismo, El Comandante rejeita várias propostas financeiramente mais vantajosas e regressa ao seu habitat futebolístico para guiar um barco que tanto precisava dele. Encontra um grupo de caras desconhecidas (tanto no banco como no balneário), um treinador na mira de fogo dos adeptos e um título quase entregue aos rivais da Luz. A tantas dificuldades Lucho reage como sempre: cabeça levantada, conduta exemplar e um golaço logo na “estreia”, em jogo a contar para a Taça da Liga, que serviu como agradecimento à receção que nem o próprio esperava - dezenas de adeptos esperaram noite dentro no aeroporto para o brindarem com os cânticos pelo seu nome, silenciados há demasiado tempo.

O balneário blinda-se em sua volta, a equipa apoia-se no seu futebol belo de tão simples que é, e o treinador confia na liderança do já “trintão”. A época termina em glória com um título sofrido e muito festejado, e a tradição mantém-se: com Lucho, o Porto só sabe ser campeão. Aos 32 anos, a idade não pesa muito no seu futebol, que é mais cerebral do que físico. Pode não ser o jogador que mais desequilibra, nem o que mais marca ou assiste, ou tampouco o que mais corre; mas é sem dúvida o jogador de quem a equipa mais depende para manter a sua identidade em campo.

 Como jogador é a alma da equipa, como homem deixou que o clube e a cidade fizessem parte da sua alma. Jogou de dragão ao peito no dia em que o pai morreu, poucas horas depois de ter conhecimento do triste sucedido. Já fez saber que gostava de estar ligado ao clube mesmo depois de pendurar as botas, pelo que de calções e chuteiras ou fato e gravata, a história do Porto de Lucho promete ter muitos e bonitos capítulos pela frente. Os adeptos agradecem. (http://www.youtube.com/watch?v=qKQf_emH4CA)


André Pinho

2 comentários:

  1. Grande lucho. Benfica é merda

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  2. O Lucho é luxo. Um jogador excelente, que saiu e voltou a casa onde se fez jogador. Sempre cheio de qualidade mesmo já com 33 anos. No jogo contra o Malaga foi o jogador que mais quilometros fez. Pena é que a sua carreira já esteja perto do fim, vai fazer muita falta.

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